Rodrigo Amarante – Drama (2021, Polyvinyl)
Cotação – 4/5
Oito anos separam Drama de Cavalo, primeiro e até então único álbum solo de Rodrigo Amarante. Cantor carioca aclamado também por sua obra construída com as bandas Los Hermanos, Orquestra Imperial e Little Joy, o artista lança disco que dialoga diretamente com seu universo construído ao longo de seus mais de 20 anos de carreira.
Em momento em que os álbuns visuais estão em alta, Rodrigo imprime nas canções características cinematográficas que dispensariam o vídeo. Ao invés do minimalismo presente nas faixas de Cavalo, Amarante traz para seu novo trabalho o som das cordas, coros e investe em conceito que transforma o disco em uma peça de roteiro estabelecido, contando inclusive com começo, meio e fim.
Embora sejam desnecessárias as imagens para ilustrar a história de Drama, por conta do conteúdo de suas músicas (como os sons de pássaros e ambientações, sentimentos expressados pelas harmonias e timbres), os clipes idealizados pelo artista se tornam necessários por sua criatividade e inovação..
Dos três clipes lançados para os singles, o que mais chama atenção é “Maré”, que parece um vídeo do Talking Heads rodado em uma caixinha de música do Castelo-Rá-Tim-Bum, com direito a um osciloscópio. No álbum, a canção é a primeira tocada após a abertura, feita por faixa que dá título ao disco e traz sons de teatro e orquestrações, ambientando o ouvinte no cenário em que o trabalho é apresentado.
Produzido em Los Angeles, nos Estados Unidos, o álbum é composto por uma série de canções suaves, e traz letras de Amarante passeando por elementos comuns em seu repertório: relacionamentos, afetos, imagens poéticas e até as referências circenses – Pierrot e Arlequim também estão nessa história. Na letra de “Tao”, dialoga com conceitos do taoísmo em som quente, trazendo também momento filosófico para o disco.
Gravado por banda formada por Andres Renterias (percussão), Paul Taylor (bateria) e Todd Dahlhoff (baixo), o álbum tem seu clímax em “Sky Beneath”, canção de base indie-pop – marcada pelo toque do violão de Rodrigo – que recebe outra dimensão com o revestimento de referências afro-brasileiras, arranjos vocais e cordas.
Entre canções praieiras da bossa-nova, música folk, melancolia, timbres do indie rock e arranjos eruditos, Rodrigo Amarante dá continuidade a sua carreira solo apresentando o mesmo que se espera de uma boa sequência cinematográfica. A identidade do artista apresentada no primeiro álbum continua em seu sucessor, temperada por novos elementos, ideias executadas de formas criativas e bons resultados. São as novas aventuras do velho Amarante.