Fora dos caminhos convencionais, Índio da Cuíca traz lugar de destaque ao seu instrumento na música popular

Índio da Cuíca – Malandro 5 Estrelas (2021, Selo QTV)
Cotação: 4/5

Por Lucas Vieira

No ano em que completa 70 anos de idade, o percussionista que abrilhantou discos de artistas como Dicró e Alcione com o toque da cuíca lança seu primeiro trabalho solo. Marcado por experimentações que encontram com canções autorais de apelo popular, Índio apresenta na obra seu trabalho como compositor e atua em diversos instrumentos, como o violão e o cavaquinho, além de diversas percussões.

Em composições ambientadas no universo da malandragem, Índio apresenta músicas que falam de assuntos como o samba e a cuíca, em clima autorreferente. Intercalando entre canções instrumentais e cantadas, o artista se aventura por ritmos como o bolero, a capoeira e até o funk.

Chama atenção a mixagem do disco, feita por Renato Godoy, em que se ouve com clareza o desempenho de cada instrumento. Nesse sentido destaca-se o toque do contrabaixo de Guto Wirtti que se faz notável sem ser o protagonista das canções; as percussões bem escolhidas de Pedrinho Ferreira e Luizinho do Jêje, além da atuação múltipla de Índio, que além de trazer a cuíca para a linha de frente em músicas onde esse não é o padrão, mostra voz de assinatura ímpar e abordagem dedicada ao violão.

A faixa de abertura, “A Cuíca Chora” traz clima moderno ao álbum, com escolha interessante para o timbre do baixo e para os arranjos de voz. Em “Jogo de Malandro”, Índio brinca com a música de capoeira adicionando timbres percussivos que dão ar praiano à canção. No “Medley de Ogum” evoca a religiosidade unindo dois cantos na mesma gravação, que encerra com diálogo visceral entre cuíca e percussão.

As músicas instrumentais mostram que o disco é dividido pela persona do Índio cantor com o instrumentista. Além de “Brincando em Ré Maior”, faixa em que é possível notar com ênfase o toque de seu violão (alinhado aqui a ambientações), o principal destaque entre as músicas sem vocalista fica para as experimentações feitas com a cuíca. No calango “Stribinaite Camufraite Oraite” a sensação é que o instrumento é a voz da faixa. A impressão reaparece em momento curioso que demanda atenção, nos timbres tortos da inquietante “Melódica”.

Escolhida para encerrar o álbum, “Baile do Bambu” é a única canção que destoa do resto da obra. Não que haja alguma perda da qualidade no funk cantado pela cuíca, porém a inclusão do beat eletrônico parece não ter espaço dentro de repertório tão orgânico marcado por percussões tradicionais de ritmos como o samba. Embora Renato Godoy faça intervenções criativas dentro da batida clássica do ritmo carioca e a ideia inusitada da “cuíca funkeira” tenha sua porção de ineditismo, a faixa funcionaria de forma mais interessante como single ou material extra do disco.

Malandro 5 Estrelas surge por caminhos pouco convencionais do samba e de ritmos aproximados e esse é um de seus grandes méritos. Com canto atraente e habilidade nos instrumentos, Índio da Cuíca prova que seu talento não se dá apenas como instrumentista, mas também como vocalista e compositor. O destaque vale também para a certeira escolha de músicos e técnicos que trabalharam no álbum, que influenciou diretamente na qualidade do resultado final.

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