Cássia Eller: A Voz Indomável que Marcou Gerações

Por Babi Turcato

CASSIA ELLERCássia Eller não foi apenas uma cantora e compositora; ela foi uma revolução. Sua voz rouca e visceral, sua presença de palco intensa e autêntica, e sua capacidade de transitar por gêneros diversos com maestria fizeram dela um ícone que transcende o tempo. Seu nome ressoa na história da música brasileira como um grito de liberdade, coragem e arte sem amarras.

Nascida em 1962, Cássia Rejane Eller encontrou na música seu verdadeiro lar. Criada em um ambiente simples, desde cedo mostrou uma inclinação para o inusitado. Seu primeiro contato com a música foi através do violão e da paixão por sons que iam do rock ao MPB. A carreira profissional decolou nos anos 90, e logo ela conquistou o público com sua autenticidade e interpretações carregadas de emoção.

Seu visual andrógino e seu jeito desprendido desafiavam os padrões da época. Cássia não precisava de estética convencional para brilhar; sua música era sua identidade. No palco, ela se entregava como se cada apresentação fosse a última, deixando sua alma exposta para quem quisesse sentir.

A voz de Cássia era singular. Arranhada como as estradas que percorreu, mas ao mesmo tempo doce como a saudade de um amor perdido. Essa dualidade se refletia em seu repertório. Ao interpretar “Malandragem”, composta por Cazuza e Frejat, ela deu vida às dores e anseios de uma geração que se via sem rumo, mas cheia de sede por experiências. Era quase como se ela fosse a própria personagem da canção, uma jovem perdida entre sonhos e desilusões, mas sempre pronta para a próxima aventura.

Se “Malandragem” é um retrato da juventude inquieta, “Por Enquanto” é a fotografia da efemeridade da vida. Ao regravar essa canção de Renato Russo, Cássia adicionou um tom melancólico, transformando-a em um hino de despedidas que ecoa até hoje nos corações que sentiram a dor de um adeus.

Mas Cássia também sabia celebrar a vida com leveza e intensidade. “O Segundo Sol”, de Nando Reis, foi uma de suas interpretações mais marcantes. A canção fala sobre redenção e recomeços, e em sua voz, ganhou ares de profecia. Como se, de fato, houvesse um segundo sol para trazer clareza aos momentos de escuridão.

Cássia Eller quebrou barreiras. Sua carreira mostrou que a música não precisa seguir um padrão para tocar as pessoas. Ela misturou Beatles com Chico Buarque, colocou Janis Joplin ao lado de Nando Reis e fez do rock uma extensão do MPB. Sua voz dialogava com todas as tribos, e seu carisma conquistava os que buscavam verdade na arte.

Seu último grande show, consolidou sua carreira e mostrou uma artista no auge, segura de si e de sua música. Foi uma despedida não planejada, mas simbólica. Pouco depois, em 2001, sua partida prematura deixou uma lacuna na música brasileira. Mas sua arte permaneceu, e sua voz continua ecoando em cada fã que sente saudade ao ouvir sua música.

Se a música brasileira fosse uma estrada, Cássia Eller seria aquele trechinho de asfalto que faz o carro tremer e o coração acelerar. Ela foi uma tempestade e um abrigo ao mesmo tempo. Deixou um legado de coragem, intensidade e liberdade musical.

Cássia não apenas cantava. Ela vivia cada nota, cada palavra. Seu legado é imortal, pois sua música, como um segundo sol, sempre encontra um jeito de brilhar outra vez.