Por Babi Turcato
A música é um reflexo do tempo e da sociedade em que está inserida. Ao longo dos séculos, os gêneros musicais evoluíram conforme novas influências culturais, avanços tecnológicos e mudanças nos valores sociais. Mas a evolução da música vai além dos ritmos e das melodias: a representatividade dentro da indústria também passou por uma revolução. Se antes a música era um campo dominado majoritariamente por homens, hoje vemos mulheres, pessoas trans e não-binárias ocupando cada vez mais espaço, moldando a indústria e transformando o mercado global.
Historicamente, a música sempre teve barreiras para determinados grupos. O século XX foi marcado pelo protagonismo masculino na maioria dos gêneros musicais, com poucas exceções de mulheres que conseguiram furar esse bloqueio e se consolidar como grandes artistas. No Brasil, nomes como Elis Regina, Rita Lee e Gal Costa foram pioneiras ao enfrentar desafios significativos para serem respeitadas e reconhecidas.
Com o passar do tempo, a luta por equidade e representatividade começou a ganhar força. Movimentos feministas e LGBTQIA+ ajudaram a impulsionar a presença de novos talentos, trazendo novas perspectivas para a criação musical. O rap e o funk, por exemplo, que historicamente foram gêneros dominados por homens, agora contam com artistas como Anitta, Linn Da Quebrada e Negra Li, que redefinem o espaço e provam que mulheres também podem ser líderes nesses segmentos. No rock, Pitty se consolidou como uma das maiores referências femininas, enquanto nomes como Liniker trouxeram novas narrativas para a MPB, quebrando paradigmas e representando sua comunidade na música brasileira.
O pop sempre foi um gênero mais aberto à diversidade, e nos últimos anos, tornou-se um dos principais palcos para artistas LGBTQIA+. No Brasil, Pabllo Vittar e Gloria Groove não apenas conquistaram sucesso comercial, mas também usaram suas plataformas para promover discussões sobre identidade de gênero e sexualidade. Esses artistas não são apenas parte da indústria, mas estão moldando ativamente o que significa ser um ícone pop nos dias de hoje.
Além disso, a internet e as redes sociais quebraram barreiras tradicionais, permitindo que artistas independentes encontrassem seu público sem precisar da aprovação das grandes gravadoras. Isso abriu portas para músicos de diferentes origens e identidades conquistarem espaço sem precisar se encaixar em padrões pré-estabelecidos. A ascensão de artistas como Urias e Majur demonstra que a diversidade está sendo cada vez mais valorizada e consumida pelo público.
A ascensão de artistas diversos não é apenas uma tendência passageira, mas uma transformação estrutural da música. A indústria percebeu que há demanda por representatividade e que a pluralidade de vozes traz inovação. Isso impacta diretamente a forma como festivais são organizados, como premiações reconhecem talentos e até como o marketing é conduzido. Festivais como o Coala Festival e o Rock in Rio têm ampliado seus line-ups para incluir uma diversidade maior de artistas, refletindo essa mudança.
Entretanto, ainda há desafios. A disparidade de pagamento entre gêneros, o preconceito estrutural e a resistência de alguns setores da indústria ainda são barreiras que precisam ser quebradas. Mas a presença de artistas diversos e engajados tem gerado debates necessários e pressionado o mercado a evoluir.
O que antes parecia um clube exclusivo agora está se tornando um ambiente mais democrático e plural. Gêneros musicais continuam se misturando, assim como as vozes que os representam. O futuro da música será, sem dúvidas, mais inclusivo, diverso e aberto a novas narrativas, onde talentos emergentes não serão definidos por gênero ou identidade, mas sim pela arte que criam.
A revolução da representatividade na música está em pleno andamento. Cada nova artista que conquista espaço contribui para que a indústria seja um reflexo real da sociedade: diversa, multifacetada e em constante transformação.